Palavras ao Vento

Sunday, October 08, 2006

Sir Nicklas Luhmann (Resenha)

Resenha sobre o texto "Por que uma 'TEORIA DOS SISTEMAS'?" de N. Luhmann
O autor do texto propõe a tese de que quando se fala em sistemas, "o mundo retirou-se para o inobservável", sendo assim, não se pode mais fazer pronunciamentos sobre o mundo com a autoridade que os tempos antigos permitiam, por causa da estrutura social da sociedade moderna. O chamado unmarked space, ou seja, o corte estabelecido entre o observador e aquilo que ele observa, traçado somente pelo próprio observador, seria o inobservável. De uma observação de segunda ordem resultaria um "valor peculiar" que se originaria a teoria dos sistemas.
Luhmann defende que a teoria dos sistemas pode oferecer uma interpretação passível de ser aplicada autologicamente. Isso ocorreria se a teoria dos sistemas fosse aplicada à própria teoria dos sistemas. Apresentando o exemplo “na teoria dos sistemas sociais o teorema da dupla contingência cumpre esta função”, explica: “É preciso pressupor um observador que coloque restrições de acordo com seus interesses, suas preferências, sua memória. Numa contingência de dupla posição aquilo que se constitui como sistema, torna-se capaz de auto-restrição”. O texto faz a divisão das duas posições como alter e ego. Sendo assim, o alter é controlado pelo ego, este exercendo um poder de restrição sobre aquele, através da expectativa. Essa distinção é interessante, para que possamos nos localizar melhor sobre o que o autor se refere quando fala de uma ou de outra posição. Assim, ao utilizar a palavra “contingência”, acredito que se refira a eventualidade, que pode acontecer ou não essa relação entre o alter e o ego. E ainda esclarece que, se essa restrição efetuada não acontecer, o que é possível, não seria necessária a formação de um sistema.
Nos tempos atuais, a “teoria dos sistemas” é utilizada em vários campos do conhecimento humano. A intenção do autor é transportá-la para a Sociologia, apesar da dificuldade dessa tarefa, pois a Sociologia ainda pouco utiliza a teoria referida. Então, é necessário um esforço de abstração elevado. Penso que é aí que se torna penoso para o leitor, já que muitos não conseguem interpretar ou imaginar essa abstração. Além disso, Luhmann defende que não se trata simplesmente de transpor domínios de outras disciplinas de forma metafórica ou por comparação.
As considerações históricas a que o autor se refere são importantes, e mostra a evolução da teoria apresentada, ao longo das décadas em diferentes áreas. A sua posição é clara em frases como: “A teoria dos sistemas incorporou-se também às ciências sociais. Permanecia, contudo, não esclarecido o que são realmente sistemas” e “Ao que tudo indica as ciências empíricas não tinham condições de solucionar este problema através de uma função matemática de transformação”. Devemos interpretar que isto significa que não era tão simples, quanto na robótica ou na inteligência artificial, a utilização da teoria dos sistemas nas ciências sociais.
No entanto, por que mesmo há este esforço por parte do autor para utilizar a famosa “teoria dos sistemas”? Porque ela é extremamente útil quando o autor se refere a fundamental diferença entre “sistema” e “ambiente” no mundo. Essa diferença se constitui e se reproduz , como essa teoria responde através dos sistemas, que é um dos lados dessa diferença. Sendo assim, nos é explicado que o ambiente não contribui para nenhuma operação do sistema, e sim, prejudica ou irrita o sistema, perturbando-o de maneira a transformar esses efeitos em informação e podem ser interpretados nele como tal. Essa situação só ocorre em acoplamentos estruturais específicos e depende do processo de diferenciação dos sistemas autopoiéticos – que tem como condição, a influência do ambiente num determinado sistema. Assim, o exemplo prático é a consciência sobre o transcurso de comunicações.
Portanto, a conclusão a que se chega é que a sociedade pode, sim, ter relação com a “teoria dos sistemas”, visto que ela possibilita uma multiplicidade de descrições do mundo e de si mesma, e, por isso, só pode descrever-se ela própria, de uma forma que leve todo esse estudo em consideração. O que inclui conceber a sociedade, ou observações da sociedade, como sistemas, já que o conceito de sistema suporta essa complexidade.
Recomendo a leitura do texto, pois acredito que este é esclarecedor. Luhmann apresenta muitas vezes palavras como “isto é” e “ou seja”, tentando explicar de outra forma aquilo que propõe durante o desenvolvimento de suas teses. A abstração que é exigida faz parte do estudo da teoria dos sistemas aplicada a Sociologia, e o leitor pode exercitar-se lendo vários textos de Luhmann, pois um complementa o outro. No começo, é extremamente difícil, depois a leitura fica um pouco melhor e passamos a entender as teses defendidas.